http://www.rafaelhoffmann.com/textos/texto_controle_absoluto.html
Controle Absoluto, a gestão na Apple
Por mais que leiamos em tópicos de gestão sobre como o
cliente sempre tem razão, que trabalhar em equipe produz os resultados mais
criativos, que abertura e transparência são as melhores políticas, ao olhar
para o sucesso da Apple pode-se perceber que as técnicas de gestão mais
eficazes, muitas vezes, contrariam o senso comum. Para Leander Kahney, escritor
especializado em assuntos relacionados à Apple, nenhuma outra empresa tem se
revelado tão hábil em dar aos clientes o que eles querem antes mesmo de saberem
que querem. Sem dúvida, isto acontece devido à visão criativa de Steve Jobs, o
fundador e ex-CEO da Apple, mas também às suas práticas de gestão. Durante sua
administração, a inovação era produto de um intenso e visceral processo, onde,
normalmente, os sentimentos das pessoas eram irrelevantes e a palavra de Jobs
lei.
Steve Jobs apresentando um iPhone 4 durante a Apple
Worldwide Developers Conference em 2010.
Steve Jobs apresentando um iPhone 4 durante a Apple
Worldwide Developers Conference em 2010.
Antes que Jobs voltasse ao comando da Apple, depois de ser
afastado do cargo de CEO em 1985, a empresa era como a maioria das empresas
"descoladas" de tecnologia, os funcionários não tinham horário fixo,
chegavam tarde e saíam cedo. Batiam papo no pátio gramado central, jogando bola
ou atirando frisbees para seus cães. Porém, nesse período, a empresa entrou em
decadência, chegando a perder 1 bilhão de dólares em um ano, e vendo os valores
das ações despencarem mesmo em um momento em que a bolha tecnológica levava o
valor de outras ações às alturas. Quando voltou, Jobs impôs novas e rigorosas
regras. Os funcionários passaram a ser proibidos de fumar ou levar seus
cachorros, a companhia voltou a ter um sentimento de urgência e
operacionalidade e instalou-se a filosofia do controle completo e absoluto
sobre toda a experiência de seu produto, de como era projetado, fabricado,
utilizado e até como era vendido.
Esse controle pode ser exemplificado pela limitação de
instalar novos aplicativos no iPhone, a série de restrições aos formatos
aceitos pelo iPod, a impossibilidade de licenciamento do sistema operacional do
Macintosh para outros fabricantes e até mesmo na arquitetura das lojas da
Apple. Em uma indústria tecnológica focada no consumidor, para Jobs, eram os
produtos que importavam. Essa abordagem de manter controle absoluto sobre
hardware, software e serviços não é comum em uma indústria dominada por hackers,
engenheiros e pessoas que gostam de personalizar seus produtos de
tecnologia.Mas Jobs odiava ceder o controle de qualquer coisa, especialmente
quando isso pudesse afetar a experiência do usuário, como a possibilidade de
aplicativos ou conteúdos não aprovados "poluírem a perfeição" de um
aparelho da Apple. Na biografia escrita por Walter Isaacson, lançada em 2011,
ele explica que acreditava que dessa forma estava prestando um serviço às
pessoas "Fazemos essas coisas não porque somos fanáticos por controle. Fazemos
porque queremos fabricar grandes produtos, porque damos valor ao usuário,
porque gostamos de assumir a responsabilidade pela experiência completa, em vez
de produzir porcarias como as que outras pessoas fabricam", explicou.
Kahney acredita que a propensão de Jobs a controlar todo o
processo gerou bons negócios para a Apple nos últimos tempos, além de ser boa
para o projeto e o design de eletrônicos de fácil uso para os consumidores. O
controle rígido do hardware e do software gerou reflexos na facilidade de uso,
segurança e confiabilidade. Ele e a Apple se tornaram exemplos de uma
estratégia digital que integrava solidamente o hardware, o software e o
conteúdo em uma unidade indissociável. Mesmo assim a estratégia não deve ser
vista como questão de princípios puramente altruístas ou como modelo de gestão
para todas as empresas. Primeiro ela levantou controvérsias principalmente
quanto ao controle rígido sobre os aplicativos que poderiam ser baixados para o
iPhone e o iPad. Mesmo que fizesse sentido tentar evitar aplicativos que
contivessem vírus, que violassem a privacidade do usuário ou que não
mantivessem o padrão de qualidade da Apple, Jobs e sua equipe foram além e
decidiram proibir qualquer aplicativo que difamasse pessoas, tivesse potencial
político explosivo ou fosse considerado pornográfico pelos censores da Apple.
Para Isaacson, com Jobs controlando os aplicativos que veríamos e leríamos, ele
corria o risco de se tornar o Big Brother que ele mesmo tinha destruído no
famoso anúncio "1984", do Macintosh.
Anúncio do Macintosh exibido durante os comerciais do Super
Bowl XVIII, em 22 de janeiro de 1984.
Por fim, analistas acreditam que esse sistema de controle
rígido só funciona porque está limitado a um número pequeno de projetos. Os
produtos podem ser acompanhados em tempo integral, do berço ao balcão, por uma
equipe pequena e dedicada de desenvolvedores. Esse modelo provavelmente não se
ajustaria em empresas como Samsung e Sony, compelidas a inovar em uma gama
muito mais ampla de produtos. Ou como o Google, onde se tem a convicção de que
um sistema aberto é a melhor abordagem, porque leva a mais opções, a mais
concorrência e a mais escolhas para o consumidor.
A era pós-Jobs
Jobs foi obrigado a ceder o controle da empresa que havia
construído em agosto de 2011 devido a um câncer de pâncreas e morreria em
outubro do mesmo ano. Foi substituído por Tim Cook, um executivo que havia
entrado na empresa em 1998 e desde então vinha se destacando e subindo de
cargo. Cook, ao contrário do áspero e explosivo Jobs, tem uma personalidade
centrada e fala mansa e tem hoje a obrigação de manter a empresa no topo, com
seu perfil inovador e clientes fiéis. Mesmo tendo uma gestão vista como mais simpática,
recentemente o próprio conselho administrativo da Apple declarou preocupação
com o quesito inovação da empresa, exigindo também que Tim Cook acelere esse
processo. Por outro lado, a Reuters publicou recentemente uma matéria dizendo
que Cook lidera uma revolução cultural silenciosa na Apple, apontando que a
empresa tem se tornado algo completamente diferente: "uma gigante
corporativa madura ao invés de uma pioneira na indústria".
Tim Cook, CEO da Apple a partir de 2011.
Tim Cook, CEO da Apple a partir de 2011.
Se Cook vai conseguir remodelar com sucesso a cultura
construída por Jobs e mesmo assim manter a Apple como uma das empresas mais
influentes da atualidade só o tempo irá dizer.
Rafael Hoffmann (Maio/2014)
Publicado originalmente na revista Liderança Empresarial -
Ano 2014 - Nº 41
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Referências
KAHNEY,
Leander. How Apple Got Everything Right By Doing Everything Wrong. Disponível
em
<http://www.wired.co.uk/magazine/archive/2011/12/features/how-apple-got-everything-right>.
Acesso em: 22 abr. 2014.
MARTINS, Ivan. Por dentro da Apple. Disponível em
<http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDG76676-8374-1,00.html>.
Acesso em: 22 abr. 2014.
KAHNEY, Leander. A Cabeça de Steve Jobs: As Lições do líder
da empresa mais revolucionária do mundo. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
ISAACSON, Walter. Steve Jobs: A Biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
http://gustavocouto.com.br/as-10-licoes-de-gestao-de-marca-da-apple/
As 10 lições de gestão de marca da Apple
Em muitos aspectos, a marca de sua empresa não é diferente
da Apple. Uma marca deve abranger tudo: o que o público sabe e pensa sobre a
sua empresa, incluindo o nível de serviço ao cliente, a sua reputação, como
você se comunica com os clientes, e sua identidade.
Seu design do logotipo, site, layout de seu ambiente, a
forma como seus empregados abordam clientes e até mesmo o uniforme de seus
empregados são fundamentais para a construção da identidade de sua marca.
Ter uma marca de sucesso significa ter todos esse pontos em
sintonia, trabalhando juntos para criar uma identidade coesa, positiva,
interessante e útil nas mentes de seus clientes. Sem uma identidade de marca
forte e clara, mesmo as empresas com grandes produtos e excelentes serviços ao
cliente não atingirão o sucesso.
Uma boa marca produz inúmeros benefícios. Ela ajuda você a
conquistar novos clientes e solidificar sua identidade com os atuais, inspira
seus funcionários, aumenta seu reconhecimento corporativo e constrói valor
financeiro.
Identificar as qualidades de uma marca de sucesso na Apple é
muito fácil. Por isso, mesmo pequenas empresas podem aprender muitas das
estratégias da Apple para construir uma marca poderosa.
Para isso, vamos observar 10 lições da Apple para que você
aplique em seu negócio:
1. Alavancar a emoção para construir a identidade da marca.
Steve Jobs disse uma vez que “A chance de ser memorável é a
essência da gestão de marca.” Uma marca envolve emoções, não apenas a razão, e
baseia-se nessa conexão para criar uma identidade memorável. A marca alcança o
sucesso quando remete uma experiência emocional positiva aos seus consumidores.
Os clientes são muito mais propensos a se lembrarem – e comprarem – produtos e
serviços que os fazem se sentirem bem.
A Apple fez isso em meados da década de 1990. A popularidade
da empresa havia diminuído, o seu reconhecimento era baixo e sua reputação não
era das melhores. Sob a liderança de Steve Jobs, a Apple lançou uma campanha
publicitária que contou com pessoas que são verdadeiros heróis – vivos e
falecidos – cuja paixão e convicções tinham alterado o mundo de uma forma
significativa. Os heróis evocaram uma resposta emocional nos espectadores, e os
anúncios deixaram claro que a Apple era uma empresa apaixonada pela inovação
como ferramenta para transformar o mundo.
2. Saiba quem você é.
É difícil estabelecer uma identidade de marca, se não souber
qual o seu propósito. Steve Jobs disse que a marca da Apple abordou a questão
do “O que estamos fazendo aqui?” A resposta a essa pergunta é informada não só
em ações de marketing da empresa e publicidade, mas todos os aspectos da sua
cultura corporativa e suas interações com os consumidores.
Qual é a missão da sua empresa? Você deve primeiro definir o
que sua empresa quer ser, para si, e então encontrar maneiras de se comunicar
de forma clara e consistente sua identidade para os consumidores. Defina sua
história e use ferramentas de marketing para compartilhar sua história com os
consumidores.
3. A consistência é a chave.
É preciso que sua identidade visual seja vista e reconhecida
pelas pessoas. A alteração frequente de seu design pode prejudicar a
compreensão dos consumidores em relação a quem você é como uma empresa.
A Apple, por exemplo, coloca consistentemente uma minúscula
letra “i” em seus produtos, como o iPhone, iPad, iPod e iWatch. Esta aplicação
consistente é um componente-chave da marca que garante que os clientes possam
facilmente identificar um novo produto como vindo da Apple, mesmo que não tenha
ouvido falar tudo sobre ele.
4. Diferencie-se com fatos reais.
Se você possui um pequeno negócio, você pode ser tentado a
se diferenciar por praticar preços inferiores aos dos seus concorrentes. Mas
essa abordagem não é escolha mais sustentável a longo prazo.
Ao invés disso, diferencie-se como a Apple: através da
inovação, qualidade superior no atendimento ao cliente e campanhas de
publicidade que envolvem as emoções dos consumidores. O sucesso da Apple nos
mostra que as pessoas estão dispostas a pagar pagar um alto preço por produtos
e serviços que são verdadeiramente diferenciados. Isso significa que você deve
cobrar um preço justo por seu produto ou serviço e que deve dar motivos para
que seus clientes paguem com satisfação por esse valor.
5. Encontre seu nicho e, em seguida, assuma o controle dele.
Todo empreendedor deve estar atento a grupos de pessoas com
necessidades não atendidas, que só esperam uma boa solução para comprarem. Mas,
identificar esse nicho não é suficiente. Você também deve tomar medidas para garantir
que você se sobressaia na mente dos consumidores como a principal escolha.
A Apple foi uma das pioneiras no segmento de computadores
pessoais. Após seu sucesso inicial comandando uma boa parte de seu nicho, a
empresa perdeu espaço no mercado na década de 90 e as suas receitas caíram. A
Apple resolveu este problema de duas maneiras: se concentrou em recriar sua
imagem de pioneira da indústria dos computadores pessoais e criou novos nichos
para si, inclusive o armazenamento digital de músicas digital e os smartphones.
Hoje, praticamente ninguém descreveria a Apple como uma empresa de “nicho”. Na
verdade, seus produtos agora permeiam quase todos os aspectos de nossas vidas.
6. Tenha empatia: caminhe no lugar do cliente.
Steve Jobs defendia que se colocar no lugar do cliente é
pensar sobre o que você gostaria de sua empresa.
Um dos pontos fortes da Apple sempre foi a sua capacidade de
projetar seus próprios novos produtos, mas com base em produtos anteriores que
fizeram sucesso, transformando-os em algo superior e mais relevante para os
consumidores. Steve Jobs fazia isso, imaginando o que era necessário que seu
produto tivesse e tirando a prova com os clientes.
Claro que, para fazer isso, você precisa entender quem são
seus clientes e o que eles realmente precisam. Depois de saber exatamente para
quem você está vendendo, é mais fácil imaginar-se no lugar do cliente e criar
soluções inovadoras.
7. Cerque-se de talento e qualidade.
Quem recusaria um trabalho na Apple? Garanto que quase
ninguém. A reputação da empresa, como uma das melhores para se trabalhar, atrai
a profissionais de qualidade e excelência para sua equipe, o que se traduz em
melhores produtos, serviços e experiências do cliente.
As pessoas que você contrata devem se adequar perfeitamente
à qualidade de sua marca. Cerque-se de pessoas talentosas que estejam
comprometidas com a excelência e que sejam apaixonadas pelo que fazem. Sua
imagem profissional deve alimentar e construir uma identidade de marca
positiva.
8. Conduza, não apenas siga.
É natural para as pequenas empresas competirem umas com as
outras. Mas se você está constantemente acompanhando o que alguém está fazendo,
você nunca terá a chance de ser um líder. Porém, isso não quer dizer que você
deve ignorar o que a concorrência está fazendo. A Apple nunca faz isso.
O conceito de smartphone surgiu muitos anos antes da Apple
entrar nesse segmento. Ao invés de seguir a outros fabricantes de smartphones,
a equipe de Steve Jobs se apoiou sobre o conceito básico mas criou seu próprio
sistema operacional e acrescentou o primeiro touchscreen. A Apple não criou o
conceito de música digital, criou produtos e serviços que fizeram a música
digital ser amplamente acessível ao público em geral.
É claro que você sempre precisará estar ciente do que o que
seus concorrentes estão fazendo, mas a maior parte de seus esforços e energia
devem ser centrados sobre como usar seus pontos fortes para abrir novos
caminhos para sua empresa.
9. Construa relacionamento com os clientes.
Se há uma coisa que as pequenas empresas sempre serão
capazes de fazer melhor do que as grandes corporações é construir
relacionamento com os clientes. É muito mais fácil para essas empresas
conhecerem, ouvirem e terem contato direto com os clientes.
O sucesso da construção de relacionamentos da Apple tem
origem em sua capacidade de interagir com os clientes em um nível pessoal, o
que não é comum para as grandes empresas. Além do mais, é a honestidade da
marca que gera confiança e conquista aos clientes. Quando você compra um “I
alguma coisa”, você sabe exatamente o que você está comprando porque a Apple
tem produtos e serviços que cumprem a sua promessa de marca.
Eleve as expectativas dos clientes e, em seguida, aja em
função delas, esse é o segredo da construção de relacionamentos entre sua marca
e o cliente.
10. Não tenha medo do fracasso.
Podemos dizer que a história da Apple é uma história de
fracassos, e de sucessos. Que experiência poderia ser pior do que um CEO ser
demitido de sua própria empresa? Steve Jobs perdia muito tempo preso em suas
falhas, ele se concentrava em sua vontade de aprender, inovar e ter sucesso.
Por incrível que pareça, isso ajudou a Apple a reconstruir sua incrível trilha
de sucesso.
Nunca se esqueça do propósito de sua marca e esteja disposto
a assumir riscos calculados que podem movê-lo rumo aos seus objetivos. Ao invés
de focar seus esforços de gestão de marca para evitar o fracasso, enfatize sua
busca pelo sucesso. Jobs defendeu sua marca até o fim. Ele lutou por ela mesmo
quando o iPad foi lançado e bombardeado de críticas. E seu esforço valeu a
pena: o iPad tornou-se, rapidamente, o produto de maior crescimento da história
da marca.
A história da Apple continua a ser escrita, e pelo que tudo
indica ela continuará sendo impressionante. Lembre-se de que sua empresa também
pode escrever sua própria história de sucesso.
Pode ser que você não tenha o mesmo orçamento da Apple, mas
para aprender com ela, você não precisa de dinheiro. Como, sabiamente, o
próprio Steve Jobs disse: “A inovação não tem nada a ver com quantos dólares
você tem. Quando a Apple surgiu com o Mac, a IBM estava gastando pelo menos 100
vezes mais em desenvolvimento de produtos. Não se trata de dinheiro. Tudo é sobre
as pessoas que você tem, como você está liderando e como você entrega valor.”
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